quinta-feira, 17 de março de 2011

Murilo Ferreira : Querem derrubar Dilma pela econômia

Em entrevista à jornalista Cláudia Safatle, do Jornal Valor Econômico, no dia 17/03/2011, a presidenta Dilma foi enfática na defesa do crescimento brasileiro sem, no entanto, permitir a volta da inflação.

Questionada pela jornalista, segundo a qual há quem argumente, na ponta do lápis, que não é possível reduzir a inflação de 6% para 4,5% e crescer 4,5% a 5%, ela diz: “Você pode fazer várias contas. É só fazer um modelo matemático. Agora, se ela é real...”

Nas condições atuais da economia ela admite alguns desequilíbrios em alguns setores, mas não considera que a inflação brasileira seja inflação de demanda e que a pressão exercida por uma demanda aquecida pode ser diminuída aumentando-se, em contrapartida, a oferta de bens e serviços através do aumento dos investimentos. Para ela o que mais vem influenciando o comportamento dos índices acima da meta são os desequilíbrios sazonais: “...é inequívoco que houve nos últimos tempos o crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento dos preços do material escolar, dos transportes urbanos”.

Dilma considera ainda falsa a idéia que o país não tem estrutura suficiente para suportar um alto crescimento, ”... não é possível falar que o Brasil está crescendo além de sua capacidade e que, portanto, tem crescimento pressionando a inflação. O mundo inteiro, na área dos emergentes, está passando por isso. Houve um processo de pressão inflacionária que tem um componente ligado às commodities e, no Brasil, tem o fator inercial. Mas é compatível segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável para o país. Caso contrário, é aquela velha tese: tem que derrubar a economia brasileira”.

Dilma aposta no crescimento Brasileiro entre 4,5 e 5% em 2011, contradizendo as previsões do mercado de que a economia irá crescer entre 3,5 e 4 %. Desconstrói a idéia de PIB potencial em torno de 3,5%, pois o país cresceu 7,5% em 2010 puxado pelo aumento em bens de capital. Para ela não tem inconsistência em cortar R$ 50 bilhões do Orçamento e repassar R$ 55 bilhões ao BNDES para garantir os financiamentos do programa de sustentação do investimento: “...não precisamos expandir o investimento para além do maior investimento que tivemos, que foi o do ano passado. Vamos mantê-lo alto. Olhe quanto investimos em janeiro: R$ 2,5 bilhões pagos”.

Sobre se o governo não está fazendo uma política contracionista, mas sim menos expansionista do que foi no ano passado, Dilma diz que o que está ocorrendo é uma política de consolidação fiscal, ressaltando sua preocupação com o crescimento desordenado dos gastos com custeio.

A jornalista do Valor questiona ainda a presidenta sobre a preocupação de analistas que para 2012 ocorreria uma superindexação do salário mínimo num momento em que o país estará em plena luta antiinflacionária. Sobre isso Dilma afirma que o processo de valorização do salário mínimo ainda não se esgotou e que pela proposta votada de correção pela inflação e pelo PIB até 2015 não se fará qualquer negócio: “...quando a economia vai mal, nós não vamos dar reajuste, ele será zero. Vamos dar a inflação. Quando a economia vai bem, com um atraso de um ano, nós damos o que a economia ganhou ali, porque acreditamos que houve um ganho global de produtividade e de crescimento sistêmico. O prazo de um ano amortece, mas transfere ao trabalhador um ganho que é dele, é da economia como um todo...” E fulmina: “... Não acho que isso seja uma indexação e quem falar em indexação tem imensa má vontade com o trabalhador brasileiro”.

Esse conjunto de idéias sobre inflação e crescimento contrasta visivelmente com os analistas de mercado que desde início de seu governo vêm fazendo grande barulho sobre as expectativas de alta da inflação e da necessidade de o governo elevar ainda mais a taxa de juros e diminuir gastos e investimentos para frear a economia, pois estaria ela, segundo eles, muito aquecida.

Para Dilma, que e não comunga com a idéia de que é possível ter um pouco mais de inflação para obter um pouco mais de crescimento, não há possibilidades de tergiversações com a inflação e que no seu governo o combate a ela será implacável, contudo, isso não se dará à custa do investimento, do crescimento, das políticas de distribuição de renda, da valorização do salário, dos programas do governo e do desenvolvimento do Brasil.


Publicado no dia 17/03/11 no portal http://www.vermelho.org.br/mg

http://www.vermelho.org.br/mg/noticia.php?id_noticia=149748&id_secao=76

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