quinta-feira, 30 de julho de 2009

Artigo: Por uma política industrial de peso

O setor industrial brasileiro teve forte contração de 16,7% entre outubro de 2008 e março de 2009 em função da crise econômica mundial, onde o comércio entre as nações tem sido muito afetado. O superávit comercial alcançado no Brasil até a 4a semana de julho de 2009, de U$16.791 bilhões, 14% a mais do que igual período de 2008, reflete a queda de 27,3% nas importações contra 24,3% das exportações. Portanto, o comércio exterior explica, em grande parte, o mau desempenho do setor industrial. Acrescente-se o problema da valorização do Real e a falta de controle do câmbio, o que coloca nossa indústria em situação de maior vulnerabilidade externa.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou dados da agropecuária brasileira, mostrando o crescimento da eficiência produtiva brasileira neste setor, colocando-a como líder mundial. A taxa de crescimento da produtividade do Brasil é de 3,66% ao ano, contra 3,2 da China, que vem em segundo lugar, seguida pela Austrália (2,12%) e Estados Unidos (1,95%). Outros dados dão conta de que o país continua como forte exportador de produtos primários, entre eles agrícolas. Assim, o chamado agronegócio não tem muito que se queixar da crise econômica, pois o mercado externo, embora com queda nos preços das commodities, não afetou profundamente o setor, que tem sido muito competitivo.

Resta um olhar preocupante sobre a indústria brasileira. Ela sofreu durante décadas a concorrência agressiva de corporações estrangeiras sob o primado liberal de não intervenção Estatal, sem planejamento e às cegas. Agora vive outro drama, um cenário externo adverso e incertezas pela frente. O comportamento empresarial na primeira hora da crise foi a demissão em massa, adiamento ou cancelamento dos investimentos, restrições por parte das empresas financeiras privadas ao crédito e falta de confiança no Brasil em superar a crise.

Não há dúvidas que a o Estado é que vem promovendo as ações anticíclicas e resgatado a perspectiva do desenvolvimento. Verifica-se isso no aumento do crédito e na queda de juros praticados pelo BB, Caixa Econômica e BNDES e no aumento do investimento público através das obras do PAC e dos vultosos investimentos da Petrobrás no Pré-sal. Com isso, observa-se o esforço empreendedor do governo, o que faz, naturalmente, reduzir as metas de superávit primário, causando espasmos na imprensa neoliberal.

Por outro lado, estamos ainda muito distante do que podemos chamar de uma política industrial de peso, conduzida e impulsionada pelo Estado. Temos deficiência em diversos setores de ponta da tecnologia, por isso carecemos de muitos recursos para elevar nosso patamar tecnológico; falta-nos uma indústria de semicondutores; temos ainda uma concentração industrial excessiva no Estado de São Paulo, falta o aproveitamento das diversas potencialidades regionais e uma política de desenvolvimento industrial em toda Federação. Resumindo, temos que ter mais planejamento, subsídios a setores estratégicos e de interesse nacional, políticas de diversificação e investimento privilegiado em setores de ponta da tecnologia.

Nosso caminho para sair da crise deve ser aquele que nos conduza a um patamar superior de crescimento e modernização do parque industrial, conduzido sob forte influência e intervenção Estatal como um tripé fundamental. Os setores privados e o capital estrangeiro também devem se associar nesse processo. Fora isso podemos ficar na retaguarda e sofrendo os efeitos mais perversos da contração mundial.

Por Murilo Ferreira da Silva, diretor do Sinpro Minas (Sindicato dos Professores) e da CTB MINAS

Publicado em 30/07/2009 no www.vermelho.org.br/mg

http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=60576