sexta-feira, 25 de março de 2011

A esperança venceu o pessimismo das viúvas de FHC

Em artigo publicado no Jornal Valor Econômico, no dia 24/03/11, Gustavo Loyola, o economista da era FHC, derrama um pessimismo assustador sobre o País. Ele cita a pesquisa de opinião do Instituto Datafolha, segundo o qual elevou-se o pessimismo da população brasileira quanto à capacidade do governo de conter a inflação.


Para Loyola, pessimista da era FHC aumentar o juros é a solução
Tal inclinação viria dos graves e continuados atentados que a tríade sustentadora da estabilidade estaria sofrendo: políticas fiscal, cambial e monetária. Loyola argumenta que houve forte queda dos superávits primários e redução da transparência na contabilidade fiscal, além do expressivo aumento dos repasses do tesouro a entidades públicas, notadamente Petrobras e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Já o câmbio, estaria menos flutuante, devido às medidas administrativas do governo e às intervenções do Banco Central. A política monetária, por sua vez, seria o “último bastião da estabilidade”. Mesmo aí, a coordenação das expectativas para Loyola tornou-se mais complicada, já que os agentes de mercado passaram a perceber mais disposição do governo para correr riscos inflacionários.

Gustavo Loyola considera como exótica a tese do governo de que o melhor ataque à inflação vem do aumento da oferta. O economista da era FHC ainda critica o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, pois este avalia que o BNDES não pressiona a inflação. Segundo o ministro, o investimento permitiria maior oferta de produtos na economia.

Para Loyola, é equivocado achar que as medidas macroprudenciais são mais eficazes do que elevar os juros para conter a inflação. Ele diz que tais medidas refletem a “torcida” para que o Banco Central contenha o aumento da taxa Selic. Por fim, o economista defende que somente a elevação da taxa de juros poderia restringir a demanda agregada, garantindo a estabilidade da moeda.

Contrário ao pessimista Loyola, não considero que houve “atentados” à tríade que sustenta a estabilidade. O economista, na verdade, está criticando os métodos adotados pelo governo Lula em 2009, para que o País saísse da crise. Lula foi bem sucedido nas medidas anticíclicas como reduções de impostos e juros, além da ampliar o consumo. Não nos esqueçamos dos aportes ao BNDES e os incrementos no PAC, cujo carro-chefe foi a Petrobras. O resultado foi o crescimento de 7,5% em 2010. Os números falam por si, e não há porque termos pessimismos, a não ser para os tucanos que perderam a eleição.

São muitas as controvérsias em relação ao câmbio. A opinião de Loyola não é compartilhada por grandes especialistas. O que existe é uma verdadeira guerra cambial no planeta. As medidas dos EUA inundam os mercados de dólares e pressionam pela valorização excessiva do real. Diante disso, são mais do que corretas as medidas do governo e do Banco Central para reverter tal tendência.

É óbvio que o governo não está disposto a correr riscos inflacionários. O problema central é não abrir mão do crescimento. O País já deixou a Itália para trás, e prepara-se para ultrapassar a Alemanha no ranking das grandes economias. São outras as perspectivas alimentadas no momento. O olhar míope (e comprometido?) de Loyola só consegue enxergar a taxa de juros como o único instrumento de combate à inflação. Suas idéias fatalmente implicariam na derrocada do atual crescimento brasileiro.


*Murilo Ferreira da Silva é diretor da CTB Minas e do Sinpro, Sindicato dos Professores.

Artigo publicado no Portal http://vermelho.org.br/mg em 24/03/11

http://vermelho.org.br/mg/noticia.php?id_noticia=150305&id_secao=76

e no Portal da CTB: http://portalctb.org.br em 24/03/11 sob o Título: "As medidas macrofinanciais de Gustavo Loyola"
http://portalctb.org.br/site/opiniao/as-medidas-macrofinanciais-de-gustavo-loyola

quinta-feira, 17 de março de 2011

Murilo Ferreira : Querem derrubar Dilma pela econômia

Em entrevista à jornalista Cláudia Safatle, do Jornal Valor Econômico, no dia 17/03/2011, a presidenta Dilma foi enfática na defesa do crescimento brasileiro sem, no entanto, permitir a volta da inflação.

Questionada pela jornalista, segundo a qual há quem argumente, na ponta do lápis, que não é possível reduzir a inflação de 6% para 4,5% e crescer 4,5% a 5%, ela diz: “Você pode fazer várias contas. É só fazer um modelo matemático. Agora, se ela é real...”

Nas condições atuais da economia ela admite alguns desequilíbrios em alguns setores, mas não considera que a inflação brasileira seja inflação de demanda e que a pressão exercida por uma demanda aquecida pode ser diminuída aumentando-se, em contrapartida, a oferta de bens e serviços através do aumento dos investimentos. Para ela o que mais vem influenciando o comportamento dos índices acima da meta são os desequilíbrios sazonais: “...é inequívoco que houve nos últimos tempos o crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento dos preços do material escolar, dos transportes urbanos”.

Dilma considera ainda falsa a idéia que o país não tem estrutura suficiente para suportar um alto crescimento, ”... não é possível falar que o Brasil está crescendo além de sua capacidade e que, portanto, tem crescimento pressionando a inflação. O mundo inteiro, na área dos emergentes, está passando por isso. Houve um processo de pressão inflacionária que tem um componente ligado às commodities e, no Brasil, tem o fator inercial. Mas é compatível segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável para o país. Caso contrário, é aquela velha tese: tem que derrubar a economia brasileira”.

Dilma aposta no crescimento Brasileiro entre 4,5 e 5% em 2011, contradizendo as previsões do mercado de que a economia irá crescer entre 3,5 e 4 %. Desconstrói a idéia de PIB potencial em torno de 3,5%, pois o país cresceu 7,5% em 2010 puxado pelo aumento em bens de capital. Para ela não tem inconsistência em cortar R$ 50 bilhões do Orçamento e repassar R$ 55 bilhões ao BNDES para garantir os financiamentos do programa de sustentação do investimento: “...não precisamos expandir o investimento para além do maior investimento que tivemos, que foi o do ano passado. Vamos mantê-lo alto. Olhe quanto investimos em janeiro: R$ 2,5 bilhões pagos”.

Sobre se o governo não está fazendo uma política contracionista, mas sim menos expansionista do que foi no ano passado, Dilma diz que o que está ocorrendo é uma política de consolidação fiscal, ressaltando sua preocupação com o crescimento desordenado dos gastos com custeio.

A jornalista do Valor questiona ainda a presidenta sobre a preocupação de analistas que para 2012 ocorreria uma superindexação do salário mínimo num momento em que o país estará em plena luta antiinflacionária. Sobre isso Dilma afirma que o processo de valorização do salário mínimo ainda não se esgotou e que pela proposta votada de correção pela inflação e pelo PIB até 2015 não se fará qualquer negócio: “...quando a economia vai mal, nós não vamos dar reajuste, ele será zero. Vamos dar a inflação. Quando a economia vai bem, com um atraso de um ano, nós damos o que a economia ganhou ali, porque acreditamos que houve um ganho global de produtividade e de crescimento sistêmico. O prazo de um ano amortece, mas transfere ao trabalhador um ganho que é dele, é da economia como um todo...” E fulmina: “... Não acho que isso seja uma indexação e quem falar em indexação tem imensa má vontade com o trabalhador brasileiro”.

Esse conjunto de idéias sobre inflação e crescimento contrasta visivelmente com os analistas de mercado que desde início de seu governo vêm fazendo grande barulho sobre as expectativas de alta da inflação e da necessidade de o governo elevar ainda mais a taxa de juros e diminuir gastos e investimentos para frear a economia, pois estaria ela, segundo eles, muito aquecida.

Para Dilma, que e não comunga com a idéia de que é possível ter um pouco mais de inflação para obter um pouco mais de crescimento, não há possibilidades de tergiversações com a inflação e que no seu governo o combate a ela será implacável, contudo, isso não se dará à custa do investimento, do crescimento, das políticas de distribuição de renda, da valorização do salário, dos programas do governo e do desenvolvimento do Brasil.


Publicado no dia 17/03/11 no portal http://www.vermelho.org.br/mg

http://www.vermelho.org.br/mg/noticia.php?id_noticia=149748&id_secao=76

quinta-feira, 10 de março de 2011

Artigo:Que diferença faz um ponto na inflação, no juros e no PIB?

Até o insuspeito ex-ministro da Fazenda Delfim Neto contesta avaliações de economistas de mercado de que o PIB em 2011 deverá ficar entre 3,5 e 4 %, podendo, segundo ele, alcançar entre 4,5 e 5 %, mas que para isso é preciso evitar expectativas pessimistas. Rechaça a necessidade de elevar a taxa selic para 13 ou 13,5 % sem o medo de que a inflação fuja muito da meta de 4,5 %, alcançando 6%.
Soma-se a essa avaliação a opinião do economista Carlos Lessa para quem o FMI aplaude as medidas restritivas do governo Dilma e que estaríamos diante de um coro trágico limitando o crescimento brasileiro a 4% ao ano, considerando que ainda não superamos o chamado “vôo de galinha” que se manifesta há mais de 30 anos no país, desde João Figueiredo (Valor: 09/03/11).

Essas expectativas se dão em torno do aumento recente de um ponto na taxa de juros que para o mercado financeiro foi um sinal positivo, mas negativo para os consumidores. A inflação para eles é o fim do mundo, mas para os trabalhadores o que é ruim mesmo é o aumento irrisório do salário mínimo. Pior para a nação é a retração na possibilidade de expansão do PIB que toda essa onda negativa pode criar. Um ponto a menos de crescimento constitui algo em torno de R$ 37 bilhões a menos circulando na economia. Um prejuízo brutal.

Será que esse é o preço que temos que pagar à ideologia dominante, ao rentismo? E pior, quem disse que não podemos continuar a crescer senão a 7,5% pelo menos 6%, ou seja, dois pontos a mais que os economistas de mercado avaliam. Então o nosso prejuízo sobe para mais de R$ 70 bilhões. Isso deixa para trás o corte de R$ 50 bilhões no orçamento para 2011. E se o pessimismo se alastrar? Já não basta a escorregada de Palocci em 2005 que contraiu o nosso crescimento para 3,5% quando o próprio Lula esperava muito mais e o obrigou a repreendê-lo?

Falam que o país não tem infra-estrutura para crescer tanto, mas a China tem ou teve nesses últimos 30 anos para crescer em torno de 10% ao ano? E por acaso não é o próprio crescimento que gera maior possibilidade de se investir em infra-estrutura? Resumindo, engodo dos grandes. O problema mesmo tem sido a necessidade de os capitalistas tupiniquins de explorar a força de trabalho na escala mais perversa do planeta, de considerá-la força de trabalho periférica, remunerando-a a “preço de banana” e enquanto o capitalismo brasileiro se recicla e se lança como potência mundial. O próprio Delfim já falava na década de 70 em esperar o bolo crescer para depois distribuir, portanto, essa cultura não é nova. Assim, um crescimento robusto com a tendência ao pleno emprego é o “x” da questão para o “espírito animal” do capitalista, considerando-se a elevação do “custo” da mão-de-obra.

Mas poderíamos considerar os enormes avanços obtidos com os programas sociais desde 2003 e as bem sucedidas políticas de erradicação da miséria. Mas isso basta? Então pergunto, quais tem sido os ganhos de capital e os ganhos de salário no último período? Como anda o crescimento da produtividade de trabalho nas últimas décadas e os ganhos advindos disto para o conjunto dos trabalhadores em termos de redução de jornada? Uma análise superficial mostra que neste país os mais ricos continuam acumulando cada vez mais as custa de um trabalho extenuante e mal pago.

Qual é a nação que queremos construir? Não se trata de uma questão isenta de luta ideológica, pois estão querendo vender uma imagem falsa do Brasil, de que é um país atrasado, sem infra-estrutura, sem recursos, limitado, em processo de desindustrialização, com uma força de trabalha sem qualificação e por aí vai... Num sentido contrário a esse já fomos capazes de grandes feitos, como na era Vargas/JK e, com êxito extraordinário, o governo Lula. Continuo acreditando que o Brasil pode muito mais, mas não só em discurso de campanha eleitoral, mas na prática do dia-a-dia mesmo - ainda porque Lula deixou um grande legado. Concordo com Lessa, precisamos gritar de novo: FORA DAQUI O FMI.


Murilo Ferreira é diretor do Sindicato dos Professores de Minas e da CTB

Publicado no portal Vermelho Minas

http://www.vermelho.org.br/mg

http://www.vermelho.org.br/mg/noticia.php?id_noticia=149240&id_secao=76