quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O pacote brasileiro da ajuda aos bancos

Os gastos do governo dos EUA com pacotes já chegam perto de US$ 5 trilhões (FSP - 25/11/08), ou seja, aproximadamente um terço do PIB da maior economia do mundo. E, como afirma o Secretário do Tesouro Henry Paulson, poderá se gastar muito mais. Um novo pacote por ele anunciado recentemente chega a US$ 800 bilhões, cerca da metade do PIB brasileiro. São cifras gigantescas que podem dar uma certa noção do tamanho da crise mundial. Some-se a isso a recessão econômica, endividamento crescente do governo, aumento do desemprego, falência de empresas, escassez de crédito, colapso do sistema financeiro, etc. Tudo apontando para uma piora no cenário para os próximos anos.

A última crise que abalou os mercados do mundo teve, justamente, os EUA como uma “ilha segura” para as embarcações aportarem. O consumo das famílias americanas tem um elevado peso na composição do PIB do país, cerca de 70%, e sua alta propensão a consumir favoreceu o crescimento do comércio e a retomada do crescimento mundial neste último período. A China foi a grande beneficiada obtendo vultosos saldos comerciais e, em contrapartida, passou a adquirir avidamente os Títulos do Tesouro dos EUA que, atualmente, somam US$ 585 trilhões, ultrapassando o Japão como seu maior detentor. Dessa forma vem sustentando, em grande parte, a valorização do dólar e, conseqüentemente, os elevados déficits na balança comercial norte-americana.

O que torna a crise atual especialmente difícil é que ainda não surgiu um “porto seguro” para “ancorar” a já bastante abalada economia mundial. Alguns poderiam sugerir que a China possa vir a cumprir este papel devido à sua grande prosperidade e dinamismo econômico. Contudo, se o mercado interno chinês ainda é um colosso a ser explorado, de enorme potencial, não se vislumbra que ele seja de fácil acesso e esteja à disposição, principalmente, para as potências em crise. A concepção chinesa trabalha para explorar as contradições da atual fase do capitalismo e garantir um elevado padrão de desenvolvimento nacional, condição que é fundamental para projetar a China como uma grande potência socialista.

A situação européia também revela preocupações, pois aponta para o mesmo panorama de recessão econômica que os EUA estão passando. Se não tão profunda, ainda assim uma situação de crescimento negativo ou de estagnação da atividade produtiva. Não há indícios consistentes que ela possa vir a ser “a ilha” da vez. Pelo contrário, suas políticas de fortes subsídios agrícolas dão a prova de como praticam protecionismo de fato e não o livre comércio que tanto propalam, não para si próprio, mas para os outros.

Não é difícil imaginar que as nações estão, a seu modo, tentando uma fórmula para escapar da crise. Os pacotes dos EUA, da Europa e da China são volumosos, mas é difícil prever quanto gasto ainda é necessário para conter a sangria e também quais setores responderão positivamente aos benefícios recebidos. As diferentes visões dos gestores da crise não se dão simplesmente porque há diferenças nas metodologias para se diagnosticar, identificar, elaborar e aplicar as medidas tecnicamente mais corretas, elas se dão muito a partir de um profundo corte de classe, onde interesses das corporações gigantescas se chocam com os interesses mais gerais da sociedade e dos trabalhadores.

No Brasil a crise não atingiu ainda, ao que parece, em profundidade o sistema financeiro. Desde o governo FHC esse setor é imbatível em lucratividade. Ainda, em plena crise, verifica-se uma alta lucratividaicade do setor, favorecido pelos elevados juros praticados no país. Esse tem sido o nosso pacote de ajuda aos Bancos que há muito nos pesa aos ombros. É de dar inveja aos banqueiros de Wall Street.